O minímo

 “Eu sei que a gente se acostuma, mas não devia.”

Marina Colassanti

Nós, mulheres que nos relacionamos com homens, ao sairmos com alguém ou iniciarmos um novo relacionamento, muitas vezes ficamos deslumbradas quando nos deparamos com um cara que faz o mínimo. As expectativas que temos em relação aos homens é tão baixa, quase no chão, e ainda assim muitos deles se enfiam num buraco para não alcançá-las. Quantos deles? Não todos, mas o suficiente para deixar-nos traumatizadas em coletivo. 

A gente não espera muito e quando encontramos alguém que é educado, nos trata bem e nos respeita, vamos correndo contar às amigas como se tivéssemos ganhado na loteria. Nem percebemos que aquilo é o mínimo, por parecer algo tão raro de encontrar hoje em dia. Claro, ter um namorado que nos dá carinho, se preocupa conosco, que nos faz sentir seguras e que não some do nada, nos fazendo implorar por atenção, é ótimo. O problema é que não deveríamos estar acostumadas com menos do que isso. 

    A gente se acostuma com a inconsistência de não ser bem tratada sempre, e nas poucas vezes que somos, ficamos contentes. A gente se acostuma em sermos o único lado do relacionamento que cede, que se doa. A gente se acostuma com brigas, com a ansiedade, abdicamos a nós mesmas e as nossas vontades, afinal, “ele é assim mesmo”. A gente se acostuma com a rotina, a gente se acostuma com a frieza. Mas não devia. 

Quando eu vejo uma amiga com um namorado bacana, fico até meio desconfiada. Parece tão difícil encontrar alguém que faz o mínimo: que ama, que zela, que escuta, que dá carinho, manda uma mensagem fofa no meio do dia e faz coisas para agradar. Tenho amigas que já se conformaram. Só de não ser um brutamontes do tempo das cavernas, já tá bom. 

Nós não devemos nos contentar com menos do que merecemos. Nós damos amor e nos dedicamos, o mínimo é haver reciprocidade. Te tratar como prioridade, te elogiar, fazer um esforço, não é mais do que o mínimo. As coisas acontecerem de forma natural, sem disputas de poder e sem jogos, é o mínimo também. Relacionamentos requerem trabalho e é importante as duas partes estarem na mesma página, trabalhando em conjunto. Nem vou comentar sobre dividir as tarefas domésticas e ser fiel, isso menos do que o mínimo, é obrigação. 

    Onde estão os homens decentes? Todos comprometidos? Seja encontrando-os através do Tinder, de amigos em comum, na faculdade ou no trabalho, o que mais se vê por aí são caras idiotas que te tratam mal, marcam um encontro e não vão, ou que te deixam no ‘visualizado’ por dias, e você fica ansiosa esperando o telefone vibrar. 

    Para mim, já chega. É como diz o ditado, antes só do que mal acompanhada. Segundo algumas pessoas, mulheres que são “muito seletivas” estão solteiras. É porque nós já atingimos nossa capacidade máxima de paciência e agora temos tolerância zero, depois de ver tantas atrocidades que não deveriam ser normais. Não deveríamos sentir que estamos pedindo demais ao esperar o mínimo. Nós somos incríveis, e como mulheres incríveis merecemos homens incríveis. Para querermos entrar em um relacionamento, vamos precisar encontrar alguém que nos proporcione ainda mais amor e felicidade do que a gente já dá a si mesma. No mínimo. Não é fácil, né?