Postado originalmente em 1 de setembro de 2020.
Estou tão cansada. Estar trancada em casa cercada pelo medo me limita. Por muito tempo eu me cobrei por não estar sendo produtiva o suficiente, mas é difícil se sentir inspirada e motivada quando se está trancada entre quatro paredes. Eu não posso contar com a força de vontade e é normal nos sentirmos assim desmotivados devido ao momento que vivemos.
Acredito que todos nós temos dias bons, quando conseguimos nos sentir bem e fazer algo que queremos, e dias ruins, quando não dá vontade nem de sair da cama. Eu tenho tentado focar nos dias bons, tentado me manter ocupada e pensando nas coisas boas que estou buscando, no que estou planejando para o futuro. Mas agora o futuro é uma questão de “se”. Se nada ruim acontecer.
A ansiedade me consome e o vírus me faz mal sem eu nem ter pego ele. É cansativo estar alerta o tempo inteiro, estar com medo o tempo inteiro, descontaminando maçanetas, registros e superfícies freneticamente, lavando as mãos umas vinte vezes, cuidando para não tocar em nada com a roupa, sentir medo achando que eu ou alguém da minha família vai adoecer por causa de um pacote de bolacha que não foi limpo com uma quantidade de álcool suficiente. É assustador pensar em quem vai adoecer e possivelmente morrer, acreditando ser só uma questão de tempo e sem saber como vai ser ou quando. É aterrorizante pensar na minha mãe acompanhando alguém ao hospital e ficando doente também.
Será que estou certa ou sou neurótica ao ser cautelosa com precisão cirúrgica em cada movimento que faço, cada objeto que eu toco e cada passo que eu dou? O seguro morreu de velho. Tenho o privilégio de poder ficar trancada em casa. Se precisasse sair, a ansiedade me mataria primeiro, mas ficar trancada também não faz bem. Só porque estou presa, não significa que estou segura: continuo ameaçada pelo vírus e pela ansiedade. Escolho fechar os olhos e rezar pelo melhor, afinal talvez eu esteja exagerando mesmo. É só medo de perder alguém que eu amo. É só medo de perder a vida.
Ah, que saudades da minha vida! De quando eu podia sair e viver. Ver meus amigos e os lugares que eu amo, dar um abraço apertado, caminhar pela cidade e pedalar na orla. Explorar todo canto que fosse possível enquanto sonhava com mais, muito mais. Conto os dias para poder viver de novo, sem saber quando isso vai acabar. Certamente vai ser o dia mais feliz da minha vida até outra prova encontrar.
Enquanto eu aguento e aguardo, outras pessoas também já cansadas de esperar decidem voltar, retomar suas vidas como antes, sem nem se preocupar com os cuidados mínimos. Isso eu chamo de egoísmo. Vejo tanta gente fazendo tudo errado, e fico frustrada pois é por causa destas pessoas que eu e tantas outras estamos nesta situação de espera, fora as inúmeras em situação de vulnerabilidade. Não vou nem começar a falar dos políticos e daquele jumento que alguns chamam de presidente. Sem ofensa aos jumentos. Se eu fizer isso, não vou acabar esse texto nunca, assim como temo que a pandemia nunca acabe. Mas não pode durar para sempre, pode?
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